A História de Estevão

Atos 6,7

Atos 6:1 Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
Atos 6:2 E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas.
Atos 6:3 Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço.
Atos 6:4 Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.
Atos 6:5 O parecer agradou a todos, e elegeram a Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia,


Atos 6:6 e os apresentaram perante os apóstolos; estes, tendo orado, lhes impuseram as mãos.
Atos 6:7 E divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos discípulos em Jerusalém e muitos sacerdotes obedeciam à fé.
Atos 6:8 Ora, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Atos 6:9 Levantaram-se, porém, alguns que eram da sinagoga chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos, dos da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão;
Atos 6:10 e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.

Introdução

Eu não sei quantos dos que estão lendo esse texto já tiveram o desprazer de passar por uma situação como esta que eu irei relatar, mas quando iniciei a preparação desse sermão, logo me veio a mente uma história contada pelo Rev. Salvador. Um dia quando ele ainda era Pastor na cidade de Patos, foi visitar uma loja de carros junto a um dos presbíteros da igreja, e ao se identificar como pastor o rapaz da loja disse: “Fulano, ta andando com o pastor não é? Agora vai se endireitar”.Esse homem não falava de tempos passados, ele dizia que o homem ainda tinha uma vida desconcertada, sem mudanças visíveis, em nada correspondia com o cargo que desempenhava na igreja. Parece que as recomendações feitas por Paulo a Timóteo, a respeito dos atributos que um presbítero deveria possuir, tais como: ser um homem de boa reputação, e irrepreensível não haviam sido observadas na vida desse oficial. É válido ainda salientar que tais virtudes devem ser observadas nos líderes, mas também são indispensáveis a todos aqueles que professam a fé no verdadeiro evangelho. Estes, não devem ser apenas homens de boa reputação, mas também, cheios do Espírito e de sabedoria.Todavia, o que vem a ser uma homem cheio do Espírito?
Homens cheios do Espírito Santo são aqueles guiados, orientados e moldados pelo próprio Espírito de Deus. Homens assim, se destacam no meio da multidão e não são mais um na Igreja eles fazem toda a diferença no Reino de Deus.
Hoje iremos meditar sobre um homem assim, iremos abordar o tema:
A Igreja do Senhor necessita urgentemente de homens de boa reputação e cheios do Espírito e de Sabedoria – A história de Estevão.

Vejamos a história de Estevão. No versículo 1, estando os discípulos muito atarefados com o ministério da Palavra, iniciou-se um problema entre o povo Os judeus criados na cultura Grega, os chamados Helênicos, estes estavam se sentindo descriminados, pois suas viúvas não recebiam as doações da forma correta como os judeus que habitavam Israel. Havia uma certa discrinação. Resumindo, estava instalada uma pequena “bagunça” e cada um “puxava a sardinha” para o seu lado. Contudo, havia uma obra muito maior a ser feita e que era a atribuição primeira dos discípulos, essa obra era a oração e ministração da Palavra. Eles não poderiam negligencia-las, em favor do serviço das mesas” ou diakoneo, verbo grego que designava servir ou administrar.(v.2) Daí, inferimos sobre como é importante que aqueles que são chamados para cada obra, a cumpra com esmero, e se dedique a ela. Os discípulos entendiam isso e sabiam que precisavam de uma solução para aquele impasse. No versículo 3, vimos que tal solução não foi deslocar alguns deles para fazer a distribuição, mas nomear pessoas de boa reputação e cheios do Espírito e sabedoria para cooperar com essa carência. Esses homens foram escolhidos dentre o povo, no número de sete, e o interessante é que a maioria deles tinha nome grego e portanto, eram helênicos, ou seja, eram justamente os que estavam reclamando sobre a má administração das contribuições da comunidade. Os helênicos escolhidos teriam por principal atribuição, organizar e zelar pela boa administração dos bens que eram doados ao povo cristão, no intuito de que tudo naquela comunidade funcionasse da melhor forma.
É fato que de tempos em tempos nós nos deparamos com homens diferenciados. Pessoas em que visivelmente vemos um agir diferenciado de Deus em suas vidas. Vejamos alguns exemplos:
1.Abraão foi levantado para Pai de muitas nações, mas acabou sendo também considerado Pai da Fé.
2. Moisés foi levantado para salvar o povo de Israel das mãos do Faraó, e até hoje é considerado um dos maiores administradores de todos os tempos, liderando cerca de 1,8 milhão de pessoas por 40 anos.
3.No Novo Testamento, vemos um homem chamado João Batista, pregando um evangelho de arrependimento como nenhum outro havia pregado até então.
4. Vemos também o apóstolo Paulo, o maior pastor e missionário que esse mundo já teve, levando o evangelho a todos os povos que o Senhor lhe concedeu.
5. Tivemos a oportunidade de termos em tempos mais recentes, homens como Lutero e Calvino que desafiaram o Império da Igreja de Roma e sistematizaram uma reforma do culto e da religião cristã.
6. Por fim, ainda aproveito para citar um homem como Charles Spurgeon, considerado o príncipe dos pregadores, no qual aos 19 anos de idade foi ordenado em uma Igreja com pouco mais de 100 membros e depois de 34 anos, a mesma igreja tinha mais de 7 mil membros, fora os 9 mil que passaram por ela durante todos esses anos.
Quando lembro da história desses homens, entendo o que o escritor aos Hebreus quis dizer em Hb – 11:38 "são homens dos quais o mundo não era digno". Foram pessoas que dedicaram suas vidas de forma intensa pela causa do evangelho.
Apesar de todos eles possuírem histórias maravilhosas construídas a custa de muita oração, fé e entrega, existe um homem que não foi citado nessa lista, mas que se destaca tremendamente. Estevão ao ser ordenado no primeiro colégio diaconal da história como nos mostra o versículo 6, inicia junto aos seus colegas, um crescimento vertiginoso do evangelho. A decisão sábia dos discípulos restaurou a organização e ordem da igreja, tendo cada um dos seus membros a sua função bem definida. Existia um problema que aparentemente acabara de ser solucionado, parece até que essa história acabaria dessa forma, mas não foi bem assim.
No versículo 8 vemos que Estevão (“coroa”) era instrumento de Deus para realizar sinais e maravilhas, e isso começava a chamar a atenção das pessoas para sua pregação, seja através do seu serviço na distribuição, seja na ministração da Palavra, na qual ele também participava. Aqui já conseguimos perceber que Estevão ia além da sua obrigação, ele cooperava também com o ministério da Palavra. Que maravilhoso! Esse homem não ficou acomodado com sua atribuição, ele buscava mais tarefas para agradar a Deus. Isso, logicamente, é o verdadeiro fruto do Espírito Santo que o preenchia. E foi justamente através desse dom maravilhoso da pregação que Estevão foi perseguido.
O versículo 9 diz que Estevão levantou a fúria dos homens da sinagoga dos Libertos. Provavelmente, era uma sinagoga em que alguns judeus que haviam sido libertos do Império Romano se reuniam aos Sábados para estudar as Escrituras, vindos de várias parte do Império. Tais homens ficaram bastante enfurecidos quando souberam dos sinais e maravilhas que Estevão fazia, e esse era o maior motivo para que eles não aceitassem o evangelho de Estevão. Eles não conseguiam entender como alguém que vinha do Império Romano poderia trazer algo de bom. Mesmo com todas as ameaças, Estevão não se intimidava, ele começou a discutir com aqueles homens e mostrar a verdade de Cristo o que só aumentava a raiva deles cada vez mais.
Vencidos em seus argumentos, eles provocaram uma sessão do Sinédrio (suprema corte do judaísmo) mediante o uso do mesmo método que fora utilizado para condenar o Senhor Jesus: o suborno de testemunhas para acusá-lo de dizer palavras blasfematórias contra Moisés, contra Deus, além de declarar que Jesus, o nazareno, haveria de destruir aquele lugar (o templo) e mudar os costumes que Moisés lhes transmitira.
Quando o inimigo não tem argumentos para lhe acusar, não pense que ele vai desistir. Com certeza ele encontrará uma saída, assim como fizeram com Jesus. No versículo 11 os líderes religiosos não tendo argumentos contra Estevão, compraram testemunhas falsas para acusa-lo de blasfêmia contra a Moisés e contra Deus. Estevão não havia blasfemado, mas suas palavras foram distorcidas em seu desfavor. Ele tinha dito apenas, que a Lei e o local de Templo era algo transitório e com a vinda de Jesus tornaram-se sem sentido.
Não existe nada pior do que ser mal interpretado, ou ainda ser caluniado por algo que não dissemos. Quantas e quantas vezes nós não tínhamos intenção de dizer algo e acabamos ferindo uma pessoa que amamos. Isso é muito triste, e nos deixa bastante magoados. Contudo, esse não era o caso de Estevão, nem mesmo isso ele havia feito. Os sinais e milagres que operavam eram em nome do Senhor Deus e em nada contrariavam o Deus de Israel, mas somente confirmavam a vinda do seu filho a Terra. Estevão foi caluniado, foi falsamente acusado e levado ao Sinédrio como deliquente assim como levaram o Senhor para Pôncio Pilatos.
Chegando ao Sinédrio, assim como nos conta o versículo 15 do capítulo 6 de Atos, os homens olham para Estevão e vêem seu rosto como um de um Anjo, ou seja, um mensageiro de Deus. Que maravilha, o homem está prestes a ser interrogado, sendo ameaçado até de perder sua vida, mas as pessoas o reconhecem como um anjo! Que bom seria, se nós em todas as situações de nossas vidas, nos apresentássemos como mensageiros de Deus. Que maravilhoso seria se diante das adversidades, não fossemos homens e mulheres covardes a ponto de negarmos nossa fé com nossas atitudes erradas, mas proclamássemos aos quatro cantos da Terra que Jesus Cristo é o Senhor, independentemente do que viesse a nos acontecer por causa de tal afirmação.
Contudo, Estevão não é apenas reconhecido como Anjo quando estava em silêncio, pois quando esse homem abre sua boca, fala como se o fosse literalmente, em uma nítida similaridade com Jesus. Estevão ao invés de se desculpar e tentar se defender inicia um sermão que é considerado um dos mais belos de toda a história do Cristianismo. Esse homem abre o sermão no versículo 2 no capítulo 7, considerando os que estavam presentes como irmãos e pais. Incrível a humanidade e humildade desse homem, pois mesmo sabendo que aqueles homens conspiravam contra ele, Estevão não falta com respeito a nenhum deles e segue em uma linha de palavras edificadoras para com os que lhe escutavam. Sabe por que?
Porque sua intenção era pregar a Palavra de Deus àquelas pessoas, ele poderia ter esperança que dentre aqueles homens estivesse algum que fosse tocado pela Graça Irresistível do Senhor e ali mesmo, no meio do Sinédrio, recebesse a Cristo como Salvador. Dessa forma, ele discorre cerca de 47 versículos falando desde Abraão, passando por toda a história da escravidão do Egito, saída para Canaã, possessão da terra, o período dos Reis e profetas, e por fim Estevão conclui da seguinte forma, no versículo 51,52,53:
At 7:51 Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais.
At 7:52 A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas;
At 7:53 Vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes.
Estevão mostra que todo o relacionamento que Israel tinha com Deus desde Abraão, apontava para Cristo, e que esses mesmos homens haviam o rejeitado, e que se não se convertessem ao evangelho, estariam pecando justamente contra a Lei Mosaica e contra o próprio Deus. Que pregação perfeita!!! Estevão expôs a palavra de Deus com toda propriedade possível, apontou Cristo como Salvador e mostrou ao pecador o caminho no qual deveria seguir. O que poderíamos esperar de um sermão tão lindo e cheio do Espírito Santo?
Conversões, certo? Errado. Após Estevão anunciar o evangelho da Cruz, ele aguçou a raiva daqueles homens, isso fez com que eles ficassem furiosos e chegassem a ranger os dentes (V. 54).
Atualmente, muitas pessoas defendem que o sermão que agrada a Deus é aquele onde há muitas conversões e manifestações espetaculares, mas na verdade, o evangelho que agrada ao Senhor é aquele que aponta o pecado e mostra o caminho da Salvação, pois o restante da obra não cabe ao pregador realizar. Em Filipenses 2:3 temos a seguinte informação: “Porque é Deus quem opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Não cabe a nós julgar quem vai ou não ser tocado pela pregação. Por isso a estratégia do chamado apelo, que ao meu ver, é em si é um ato totalmente contra a palavra de Deus, e, portanto deve ser tão questionada.
Os homens furiosos não poupam a vida de Estevão, mas antes de mata-lo ainda tem que escutar as últimas palavras desse homem cheio do Espírito:
At 7: 55 Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus;
At 7: 56 E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus.
Quem sabe agora eles não se compadecessem com sua visão?!! Mas não, eles lançam-se todos juntos contra Estevão, levam-no para fora em local público e o apedrejam até a morte. Esse é o fim de um homem que defendeu o evangelho. Esse é o fim de um homem cheio do Espírito Santo. Tem só mais um detalhe, percebam no versículo 58, que um tal de Saulo estava naquele lugar e ele foi o responsável por guardar as vestes de Estevão, o que muito tempos depois faria ele se envergonhar escrevendo sua carta aos Gálatas falando sobre sua participação em tal episódio. Pois é, ainda não era o tempo de Paulo (Saulo) receber o evangelho.
Por fim, nos versículos 58 e 59, Estevão ainda profere uma oração em favor dos seus assassinos tal qual Jesus em Lc 23:34 E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...)

O que diriam sobre o resultado desse sermão os pregadores da prosperidade? Ou ainda os pregadores do egocentrismo que amam exaltar o homem para não apontar suas falhas? Ou ainda os pragmáticos que mensuram a eficácia do seu sermão de acordo com a quantidade de pessoas que levantam a mão ao final?
Irmãos, esse sermão não foi apenas para que Estevão tivesse essa morte gloriosa, nem apenas para condenação dos religiosos da sinagoga e do Sinédrio, mas depois de 2000 anos, esse mesmo sermão tocou a vida de pelo menos uma pessoa e a levou ao arrependimento. Na semana passada um dos colegas meus de seminário, chamado Luciano, me contou que a cerca de um ano e meio atrás, ao ler esse mesmo trecho da Palavra de Deus teve sua vida transformada. Portanto, mesmo que ninguém mais em toda história tenha se convertido pelo sermão de Estevão, temos certeza que pelo menos uma alma, foi salva por intermédio da pregação de Estevão, e houve festa no céu por isso!
Meus queridos, o que podemos concluir dessa mensagem é que a Igreja de Cristo precisa não de homens bem sucedidos financeiramente que possam comprar tudo que a igreja precisa, nem muito menos de pregações emocionantes, mas precisa de crentes de boa reputação e cheios do Espírito e de sabedoria, pois é certo que em um momento ou outro Satanás irá nos atacar de forma traiçoeira, mas caso sejamos homens cheios do Espírito Santo, não teremos do que nos envergonhar diante de Deus, não será necessário nos defendermos pois é o Senhor mesmo a nossa defesa.
Não fiquemos ansiosos por coisa alguma, se nosso trabalho aparentemente não tiver resultado imediato, devemos saber que honra muito maior é poder ao final da jornada olhar e ver o Senhor à destra do Pai nos aguardando, dizendo entra em tua morada eterna filho amado.
Que o Senhor nos abençoe!
Soli Deo Glória!!!

Presb. Augusto Brayner

 
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