Quem ainda não ouviu em algum sermão aquela história do menino que pede ao pastor para morar na igreja porque lá seu pai torna-se uma pessoa eminentemente cristã?
Nos consultórios de psicanálise a cada dia torna-se mais comum o tratamento de cristãos adoecidos dos mais diversos recalques, traumas e neuroses.
É gente de Deus que ainda não entendeu a simplicidade do Evangelho, que ainda não se encontrou a sós com Jesus.
Gente que não pára, que está na igreja de domingo a domingo, mas que não silenciou o coração para ouvir a voz daquele que dizem ser o senhor de suas vidas.
Gente cujo caminho ainda está longe de ser aquele que nos aproxima da verdade que liberta...
Gente que muitas vezes até pretende curar-se, mas, que, todavia não quer se submeter ao processo de cura.
Sim, porque curar-se dá trabalho, requer quietude, tempo a sós com Jesus, leitura/meditação/re-leitura da Palavra, arrependimento, renovação de valores morais, mudança de hábitos, limpeza da mente, perdão, aceitação de si próprio e do outro, esquecimento de mágoas, confiança na justiça divina, sorriso indistinto, fé e disposição íntima em manter sempre este processo.
E eu fico aqui me perguntado de que vale o faz-de-conta, se a vida não muda, se a alma não experimenta paz, não se há alegria, se a alma não pára de doer...
Se no afã de manter-se “impecável”, nega-se a necessidade de negar-se a si mesmo.
Nega-se o efeito terapêutico e inalienável de tormar a própria cruz após Cristo, nega-se a necessidade de cortar membros e de os jogar fora.
Prefere-se conviver com o mal cheiro de membros apodrecidos do que submeter-se a amputação que liberta a alma, que sara a dor mais íntima.
E o óbvio acontece, haja posto que não há quem viva nesta situação-limite sem desabar!
Mais cedo ou mais tarde, se adoece, se implode (se explode pra dentro!) com conseqüências às vezes irreversíveis e doenças psicossomáticas ainda mais graves à alma do que os próprios traumas vivenciados durante toda a vida...
Cada dia mais cristãos vivem como se sofressem de um transtorno de dupla personalidade coletivo.
No dia-a-dia são um tipo ciumento, invejoso, tirano, fofoqueiro, promíscuo, mentiroso.
Mas aos domingos transformam-se, aparentam um caráter, do qual jamais foram portadores...
E por isto mesmo sucumbem tão facilmente, ao menor sinal de tempestade...
Que cada um se examine, e que pela graça misericordiosa do Pai, se permita a atitude humilde de correr para os braços de Jesus, que está sempre pronto a socorrer e curar a quem quer que se achegue com sinceridade de coração.
Por: Luciana Rodrigues - cristã, historiadora, educadora, cinéfila, poetisa, leitora compulsiva, meio psicanalista e meio teóloga, autora do blog Tende ânimo!