João Capítulo 3
Versão João F. Almeida Revista e Atualizada
1 Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
3 A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?
5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.
8 O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.
9 Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus:
10 Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?
11 Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho.
12 Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem [que está no céu].
14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,
15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Introdução:
Você já imaginou se ao chegar alguém na Igreja pela primeira vez e procurasse o Pastor para uma conversa e logo de início esse homem elogiasse sobremaneira a Igreja, o pastor, o conselho e tudo ali era feito e tivesse como resposta:
Meu irmão, ou você muda de vida ou vai pra o inferno!!!
Não é assim que tratamos as pessoas, nem deveria ser, pois não as conhecemos em seu intimo nem muito menos sabemos como anda o seu lado espiritual, mas foi de uma forma parecida a essa que Jesus tratou com Nicodemos. A diferença entre o tratamento de Jesus deu a Nicodemos e o que nós devemos fazer está exatamente ligado ao conhecimento espiritual que o nosso Senhor tem de nós, Jesus de antemão sabia de toda história de Nicodemos, e por conhece-lo, usou dessa reposta nada cortez, pois julgou ser ela a que mais Nicodemos precisava naquele momento.
Pois bem, hoje iremos tratar exatamente do profundo conhecimento que Jesus tem do nosso interior, de seus propósitos e de todos os falsos testemunhos externos que às vezes podemos passar para os outros, mas que jamais enganarão a Deus.
A estratégia de Nicodemos e a resposta de Jesus 1-3
Nicodemos era um homem de boa formação, era reconhecido como homem influente dentro do judaísmo e por isso conhecia bem sua religião, porém, parece que esse homem estava intrigado com o que vinha acontecendo em sua cidade, as notícias corriam sobre um Galileu que percorria aquela região falando que era filho de Deus e fazendo sinais e prodígios que deixavam a todos abismados. Diante disso, Nicodemos decidiu se achegar a Jesus inicialmente lhe denotando uma patente usada para poucos em Israel, ele o trata como mestre no versículo 1. Aparentemente Nicodemos estava exaltando a Jesus e reconhecendo que tudo o que ele fazia era através do poder de Deus, e que cria que tudo aquilo era obra do Eterno. Ele demonstrou um testemunho externo maravilhoso, começou exaltando a Jesus e confirmando todo o seu ministério, talvez esperando uma resposta amena, ou ainda um “muito obrigado”, ou quem sabe um “Deus te abençoe meu filho”, mas o que ele recebe? Uma resposta dura e sem meias palavras. Jesus não fez como de outras vezes como com a mulher Samaritana que ao chegar-se a ele, nem precisou falar e recebeu sua benção, ou talvez a prostituta que correndo dos homens que queriam apedreja-la chegou-se a Jesus e ele a despediu com um: “Vá e não peques mais!” Mas por que com Nicodemos teve que ser diferente? O que Jesus havia sondado no coração daquele homem, para ele ter que receber uma resposta tão dura?
A falta de discernimento espiritual de Nicodemos 4-12
Apesar de a expressão nascer de novo ser utilizada livremente pelos judeus em sua religião quando algum gentio se convertia(prosélito). Nicodemos simplesmente não entendia o que Jesus quis dizer com aquilo, já que ele julgava ser um filho da promessa, não espiritual, mas sim pela questão de genealogia, referenciada por ser ele um “filho de Abrãao”, e por isso não necessitava do tal “novo nascimento”. Contudo, ele não entendia e não conseguia discernir o que realmente o Senhor quis lhe dizer naquela noite, Jesus tratava ali de algo espiritual, de uma novidade de vida que excede a questão de descendência da carne. Dessa forma, o Senhor tenta lhe mostrar, que aquele que nasce da carne é apenas carne, e por isso, toda a sua religiosidade, todo o seu zelo doutrinário, toda a sua genealogia de nada valeria caso não houvesse mudança de vida.
Lendo o que esse texto nos diz, eu fico a me perguntar, quantas vezes nós pensamos como Nicodemos, quantas ocasiões nós nos moldamos a estilos pré-concebidos de crentes, nos quais aqueles que não se encaixam naquilo que entendemos por cristão, acabam por nosso próprio julgamento ficando de fora da eleição de Deus. Esse é um grande erro que podemos cometer, nosso Deus não traz crentes a reboque, como fala o Reverendo Hernandes Dias Lopes. Ele cita a história de Abrão e Ló, onde o nosso Pai na fé sempre foi um crente firme, ligado aos ensinamentos e doutrinas deixados por Deus, mas nunca se afastou do lado espiritual e da responsabilidade de ter recebido as promoessas de Deus. Enquanto isso, Ló era o chamado crente a reboque, não que deixasse de ser filho do Eterno, mas ele não chamava a responsabilidade para si, não ia de frente aos perigos que a caminhada trazia e tinha uma visão material daquilo que Deus o concedia, como na escolha de qual caminho seguir. Da mesma forma são aqueles que sabem do seu chamado, estão convictos que Deus os capacitou para tal obra, mas não enfrentam as dificuldades, aqueles que são crentes realmente frios (e que não confundamos barulho, esteria e coisas do tipo), aqueles que não tem intimidade com Deus.
Nicodemos entendeu a afirmação de Jesus da forma mais carnal e arrogante possível, ele não entendia como ele sendo um judeu de nascença, haveria de necessitar de novo. Esse também é um grande precipício que muitos tem caído, a chamada arrogância espiritual. Existe um ditado no meio das igrejas que afirma que "Deus não tem netos, mas sim filhos" e talvez essa fosse uma boa resposta para Nicodemos, à necessidade que temos de mudar de vida é individual e não pode ser transferida de pai para filho, cada um precisa da sua. Mas Jesus não deixou por menos, ele simplesmente derrubou mais uma das crenças extremamente religiosas de Nicodemos, como vemos no verso 8, aquele judeu era um homem que estava moldado a viver uma religião fria e metódica, na qual tudo o que acontecia estava pré-estabelecido pelos seus líderes. Todavia, Jesus agora apresenta uma nova forma de culto, onde o Espírito, ou o vento como Ele mesmo denomina, sopra para onde quer, e o que é mais interessante é que nada disso contraria a ordem e decência falada em Corintios. Ali Jesus mostra que Ele age de diversas formas e conforme lhe apraz, diferentemente de como aqueles homens conduziam os judeus, com rédeas curtas e cheias de amarras espirituais para o povo. O Senhor não só mostrava a necessidade de uma novidade de vida a Nicodemos, mas também o advertia contra a excessiva conotação religiosa que ele e os líderes judeus estavam vivendo naqueles dias. Além de tudo isso, Jesus mostra que o vento é soberano, acima de tudo ninguém poderia segurar a força do vento. Ninguém pode impedir o agir de Deus como fala o profeta Isaias: agindo "Eu quem impedirá?" Até aquele momento, Jesus havia permitido todo aquele controle, mas a partir dali não mais poderiam viver daquela forma, pois o vento agora estava tomando outro rumo, e, portanto, a frieza espiritual estava dando lugar ao renovo do espírito, queira os fariseus ou não.
Jesus ensina a motivação pela qual o homem se volta para Deus. 13-16
Nesse trecho Jesus mostra que toda aquela religiosidade, todo aquele cerimonialismo de nada valeria se eles não soubessem da motivação maior, que não estavam na escolha deles, nem muito menos na questão de descendecia de sua linhagem, mas sim na atitude primeira que o próprio Deus teve em nosso favor. Jesus explica a Nicodemos que o que realmente importa na sua salvação era a morte de Cristo na cruz. De nada valia a religiosidade daquele povo se não fosse a cruz, e por meio dela todos aqueles rituais de nada valeriam. Quando comparamos esse trecho com a carta do apóstolo Paulo aos Gálatas , começamos a entender o quão importante deve ser o nosso zelo pelo sacrifício de Cristo. A Igreja da Galácia havia tido uma experiência fantástica com Cristo, as conversões haviam sido sinceras naquele lugar, mas agora algo começava a mudar, iniciaram alguns movimentos dos chamados judaizantes os quais queriam trazer de volta as antigas práticas. Eles ensinavam que o que Paulo havia dito era verdade, realmente não haveria mais necessidade dos sacrifícios, que a salvação não seria por obras, mas sim pela graça, contudo, alguns daqueles rituais deveriam continuar a serem realizados. Isso enfureceu Paulo, e foi o grande motivador dele escrever a carta para aquela Igreja. A maior prova da sua indgnação encontra-se no final da epístola quando ele decide escrever de seu próprio punho. O Apótolo escreve em letras grandes para chamar atenção, assim como hoje fazemos na internet, demonstrando seu zelo e compromisso em defender a suficiência do sacrifício de Cristo.
Devemos ter cuidado com aquilo que nos foi dado de graça, não podemos voltar a prática das obras do tempo do Velho Testamento, muito menos colocar a cruz de Cristo de lado e acharmos que existe algo que contribua para nossa salavação, quer seja rituais, ou religião ou ainda uma decendencia, como fez Nicodemos.O mais sensato é que nos acheguemos a Deus e testemunhemos ao mundo que o nosso gloriar seja somente na cruz de Cristo como o Paulo ensina. Que possamos nos esvaziar do nosso egocentrismo, que deixemos nosso orgulho, nossas vaidades espirituais de lado e possamos a cada dia saber que sem um novo nascimento ninguém pode agradar a Deus. Se já passamos por essa experiência devemos ter a noção exata do que isso representa, quem nasce de novo deve ter uma nova vida, e nova vida debaixo da vontade de Cristo, não somos mais da Lei, mas nem por isso podemos nos esquecer dos mandamentos e do caminho que Jesus nos deu para seguirmos. O nascer de novo para quem já é nova criatura, precisa ser refletido no dia-a-dia, não foi só uma experiência isolada, mas sim uma mudança no estilo de viver. Mudança essa, que atinge nossa casa, nosso trabalho, nossas finanças, nossos planos e principalmente nosso modo de enfrentar as adversidades. Precisamos refletir a nova criatura que somos, pois se as coisas velhas já passaram, TUDO, ABSOLUTAMENTE TUDO, tem que se fazer novo.
Se não for assim, quem nós vamos impactar? quem iremos influenciar? Faz-se necessário que sejamos testemunhas da obra redentora de Cristo em nossas vidas, em agradecimento a tudo que Ele nos tem feito.
Mas ai muitos que não passaram por tal experiência podem se perguntar, assim como fez Nicodemos: Como pode um homem já velho nascer de novo? Para essa resposta eu vos deixo o que Jesus mesmo falou: O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. Portanto, o vento vai lhe tocar, muito embora não saibamos como nem de onde ele vem, ele nos toca, nos quebranta e trata de fazer a obra do novo nascimento, se você nunca passou por essa experiência, o melhor que tem a fazer é orar e rogar a Deus por isso hoje, não existe tempo melhor para pedir ao pai por isso do que hoje, não importa se você já está na Igreja, não importa nem se você participa dos rituais da Igreja como fazia Nicodemos. Mas o que realmente importa é o um coração transformado pela graça e o conhecimento íntimo revelado pelo nosso pai. Por isso, saibamos sempre, não é o nosso testemunho externo que determina nosso nível espiritual, mas o que nos revelará o quão renovado fomos pelo vento do espírito, é o novo nascimento, e isso só se discerne espiritualmente e não pela carne.
Soli Deo Gloria!!!
Presb. Augusto Brayner